Salvar vidas pode ser mais simples do que se imagina, com boa vontade, empatia e disposição. Foi o que o associado da AEA-PR Claudemir Desto, de Cascavel, descobriu em 2018, quando passou a ser um voluntário do Centro de Valorização da Vida, que presta apoio emocional a pessoas com desafios emocionais e realiza prevenção do suicídio em todo Brasil – um trabalho importantíssimo em um país que registra cerca de 40 casos de suícidio por dia.

“A maioria das pessoas que buscam o CVV são pessoas bastante solitárias que precisam de alguém para conversar. Há uma parte que já considera realmente acabar com a própria vida e os voluntários são como uma última escolha. Ao valorizarmos os sentimentos dessas pessoas, ao simplesmente acolhermos a dor delas, elas se sentem mais animadas a superar aquilo que estão passando e a encontrar caminhos”, explica Claudemir.

Uma vez por semana, ele reserva quatro horas para trabalhar em sua própria casa nesta importante missão. Em um local reservado, ele se conecta ao servidor do CVV para receber ligações de pessoas em desequilíbrio emocional que necessitam de alguém para conversar, recurso fundamental para prevenção do suicídio.

“É importante saber que o suicídio é um processo. As pessoas que ligam são pessoas solitárias, nos ligam especialmente nos fins de semana e em datas especiais, pois se sentem mais sozinhas nesses dias. Elas precisam conversar e não têm alguém com disponibilidade para isso”, comenta.

Claudemir explica que para ser um voluntário como ele é necessário passar por um treinamento online de 30h. Depois disso é possível participar dos plantões semanais, a partir de casa, se tiver uma boa estrutura para isso, ou a partir dos escritórios das sedes do CVV. A instituição no Paraná está hoje em Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá e Cascavel.

“Esta conversa é totalmente anônima, privativa e segura. Como voluntários aprendemos a escutar de verdade, a ouvir muito mais do que falar. Aprendemos sobre escuta qualificada, sem julgamento, focada nos sentimentos da pessoa, estimulando assim a pessoa a continuar a viver”, conta o associado.

Apesar de estar em todo Brasil, Claudemir explica que o número de voluntários ainda é insuficiente, frente à demanda, fazendo com que, em alguns dias, as pessoas devam esperar muito pelo atendimento, quando mais precisam.

“Eu divulgo e procuro estimular colegas da Caixa para serem voluntários pois é uma forma simples de prestarmos um serviço muito útil à sociedade. Com esse trabalho, acabamos percebendo também que nossos problemas são pequenos perto do que as pessoas passam todo dia. É um trabalho muito gratificante., defende o voluntário.

Centro de Valorização da vida

Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma associação sem fins lucrativos, fundada em São Paulo, em 1962, realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.

Os contatos com o CVV são feitos pelos telefones 188 (24 horas e sem custo de ligação), pessoalmente (nos mais de 120 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br, por chat e e-mail. Nestes canais, são realizados mais de 3 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 4000 voluntários, localizados em 24 estados e no Distrito Federal.

Além dos atendimentos, o CVV desenvolve atividades relacionadas a apoio emocional, com ações abertas à comunidade que estimulam o autoconhecimento e melhor convivência em grupo e consigo mesmo. A instituição também mantém o Hospital Francisca Júlia que atende pessoas com transtornos mentais e dependência química em São José dos Campos-SP.

Setembro Amarelo

Em 2013, foi criada a Campanha Setembro Amarelo pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina. Atualmente, o Setembro Amarelo é a maior campanha anti estigma do mundo. Em 2022, o lema é “A vida é a melhor escolha!” .

Sabe-se que quase 100% dos casos de suicídio estão relacionados a doenças mentais não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Dessa forma, a maioria dos casos poderia ter sido evitada se esses pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade.

Saiba mais em: https://www.setembroamarelo.com/

Dados sobre suicídios

De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios por ano em todo o mundo, sem contar os episódios subnotificados. Com isso, estima-se que sejam mais de 1 milhão de casos e que mais pessoas morram como resultado de suicídio do que de HIV, malária, câncer de mama, guerras ou homicídios.

Nos países das Américas esses índices não param de crescer, segundo a OMS, com um aumento de 17% entre 2000 e 2019. No Brasil, são 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.

As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil).