A Primavera inspirou seu nome e, nesta estação, ela partiu. A escritora Flora Camargo Bento Munhoz da Rocha, viúva do ex-governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha, morreu no domingo (16 de novembro) de causas naturais.

Aos 103 anos, completados em 23 de setembro, ela era a sócia mais antiga da AEA-PR e considerada a primeira dama mais marcante do estado. O prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, decretou luto oficial nesta segunda-feira (dia 17) pelo seu falecimento.

Flora foi velada na Capela Vaticano até o meio da tarde de segunda e, na sequência, enterrada. Ela foi lembrada por vários colegas e amigos que conquistou ao longo de décadas, entre eles integrantes da Academia Paranaense de Letras, da qual fazia parte e, também, da época de convivência com seu marido, inclusive quando ele foi engenheiro da Caixa Econômica Federal, onde se aposentou.

Sua origem não era menos nobre do que a trajetória de Bento. Era filha de um dos mitos políticos do estado, Affonso Camargo, ex-governador do Paraná no início do século 20. Estudou em bons colégios, como o Cajuru e o Sacre-Couer, e poderia ter se tornado em uma dondoca. No entanto, não ficou restrita às regalias e protocolos comuns a sua condição.

Após se casar aos 17 anos, ela assistiu o marido direcionar o Paraná à modernidade e, embora discreta, também fez a sua parte. Na década de 1950, enquanto ele erguia o Centro Cívico, ela fundava a assistência social no estado. Criou o projeto Cidade dos Meninos, dedicado às crianças “desvalidas da sorte” e mais de 400 postos de puericultura (relacionados ao desenvolvimento infantil).

Aficionada pelas letras, Flora escreveu dezenas de livros, a exemplo do primeiro, Apontamentos, de 1954. Publicou colunas em diversos veículos, entre eles a revista O Cruzeiro e o jornal Gazeta do Povo. Em 2008, foi eleita como integrante da Academia Paranaense de Letras (APL), na qual ocupou a cadeira de número 10.

Apesar de ter alcançado a longevidade, como a maioria de seus familiares, Flora não teve muito tempo de aproveitar as atividades da APL. Para quem a conheceu e ouviu suas histórias, porém, ela será “eterna” na mente e no coração. Certamente é o que pensam os cinco filhos e netos que deixou.