Crônica classificada em 3o lugar no 2o Concurso de Crônicas da AEA-PR

Lá estava ela sentada na frente da televisão escutando o noticiário da manhã.

As informações divulgadas pelo interlocutor provocavam em sua mente uma empatia às vítimas dos fatos narrados.

Em meio ao caos, notou uma mulher que estava ajoelhada em frente a um hospital, demonstrando uma comoção pelas inúmeras pessoas que lá se encontravam, acometida por um vírus que se alastrava pelo mundo todo.

Revivendo o passado pensou nas inúmeras vezes em que festejava dias especiais em sua vida, festas de aniversário, comemorações de metas atingidas, dias felizes em que podia estar presente na vida de seus entes queridos.

Como poderia ter novamente um dia especial quando tudo ao seu redor parecia um redemoinho alucinante? 

Sentia-se parte daquelas pessoas que de uma hora para outra tiveram as vidas de seus entes queridos, ceifadas sem aviso prévio. 

Quando estava embaralhada em suas introspecções lembrou-se de quando era pequena, e sua mãe em dias de tempestade, onde tudo parecia negro, sentava-se ao seu lado e oravam.

Naquele momento tudo se transformava e o que era aterrorizante se convertia numa paz interior muito grande.

De imediato prostrou-se ao chão e de joelhos pediu a Deus que lhe fortalecesse a fé, não só a ela, mas a todas aquelas pessoas que perderam um familiar, um amigo de trabalho, um vizinho ou até mesmo uma pessoa que não lhe era agradável à convivência.

Orando, pediu veemente que daquele dia em diante, todos os dias fossem dedicados uma oração intercessora pela humanidade, em especial as pessoas que estivessem vivendo uma dor intensa neste momento angustiante, em que o mundo estava enfermo.

Ficou ali intercedendo com lágrimas nos olhos, pois o coração estava transbordando de dor e sofrimento.

Solidarizada às pessoas que perderam um familiar ou mesmo ainda acamados a tratamento, permanecia com as mãos entrelaçadas olhando para o alto. 

Não percebia as horas passar até seus joelhos começarem a doer e a fazer pressão, sinalizando uma pausa para aliviar os músculos e propiciar a corrente sanguínea fluir.

E, foi nessa pequena dor corporal e o sofrimento causado a ele, que o seu dia ficou muito mais especial por sentir a presença de um ser onipresente, que um dia sofrera por todos nós dores piores.

Ao levantar-se parecia estar mais leve e as suas lágrimas reconfortadas pelo tempo que se dedicou à oração e elevação espiritual. 

Olhando para sua janela, através de uma cortina de voal, percebeu que o sol brilhava intensamente e que ao longe ouvia vozes conversando e o canto das aves voando no azul celeste.

O seu dia se tornara especial, pois sabia que a sua oração, somada a de muitas outras, chegaria aos ouvidos de quem nos mantém a vida, e na sua vontade até o dia que está registrado no livro da vida.

Autora: Regina Fagundes