Debate esquentou quando diretores demonstraram divergência em relação às ações da Vale

A diretoria da Funcef se apresentou  nesta manhã no 39° Simpósio da Fenacef, uma das plenárias mais esperadas do evento. O presidente Carlos Vieira; os diretores eleitos, Antônio Augusto Miranda (Administração), Délvio Brito (Benefícios) e Max Pantoja (Controladoria), o  gerente Jurídico, Paulo Chuery, o Diretor de investimentos, Paulo Werneck, e o diretor de Participações societárias, Renato Augusto Villela dos Santos, participaram do debate aberto ao público.

O presidente, Carlos Vieira, abriu a primeira parte do encontro, em que diretores presentes apresentaram uma breve explanação sobre o andamento de trabalhos em suas áreas. Vieira destacou  a atual superação da meta atuarial e enfatizou o esforço de toda equipe na busca pela recuperação de ativos –  e chamou atenção sobre a notícia do primeiro depósito, nesta quarta-feira, dos valores relativos ao Acordo de Leniência.

A luta pela manutenção da paridade  junto à Caixa, referente ao REG Replan Não Saldado, foi comentada por Délvio Brito. “Não podemos admitir depois de 40 anos de relação com a Caixa que ela passe a não nos tratar com paridade”, afirmou o diretor de Benefícios. Brito reforçou a importância da união dos participantes e entidades.

O diretor Max Pantoja foi breve em sua apresentação, em que citou os impasses relativos às ações da Vale e a oposição firme dos diretores eleitos ao processo de reestruturação societária da mineradora. A queda do valor das ações da Vale foi apontada inclusive, pela diretoria, como uma das principais causas do déficit da Funcef. Ao fim da plenária, o tema voltou à tona e os ânimos se exaltaram. Evidenciou-se as divergências entre os diretores eleitos e o presidente da Fundação, quanto ao tema.

As ações que vêm sendo feitas para recuperação de ativos foram apresentadas pelo diretor de Administração, Antônio Augusto. Ele destacou o processo de declínio das contas a partir de 2009, que chegou ao “fundo do poço”, em 2015- quando se inicia o caminho de recuperação. De acordo com Antônio Augusto, o grande volume de investimentos estruturados “com carga de vícios e contradições” gerou pesados efeitos negativos nos resultados. Esses investimentos são principal objeto de investigação e das medidas jurídicas reparatórias que estão em curso.  O diretor de Administração destacou, na atuação atual,  o processo de revisão de políticas de investimento – com foco em políticas protetivas – e a reformulação do processo de equacionamento.

O diretor de investimentos, Paulo Werneck, falou sobre o trabalho de adequação de riscos de cada plano e da maior responsabilidade quanto às despesas. Werneck parabenizou o trabalho de Paulo Chuery, gerente jurídico, nas ações jurídicas para recuperação de valores. Informou uma nova postura de análise de investimentos, que deve emergir agora de um corpo técnico especializado. “Nosso objetivo é trazer segurança e manter os resultados atuais, com um olhar  responsável sobre investimentos, em relação à risco e retorno”, afirmou Werneck.

A postura “protetiva” em relação a investimentos foi reafirmada pelo diretor de Participações societárias,  Renato Augusto Villela dos Santos. “Temos que remar todos na mesma direção, que é o da sustentabilidade dos nossos planos”, defende Villela. O diretor anunciou a reformulação da equipe (da alta direção e técnicos) e a transparência como um dos focos de trabalho.

O gerente jurídico, Paulo Chuery, comentou a desordem em que encontrou à casa ao assumir o cargo. Chuery destacou a padronização de contratos jurídicos para prestadores de serviço e a adequação de valores pagos por serviços – como medidas para redução dos gastos elevados da área jurídica – e o intenso trabalho de recuperação de ativos pela via judicial. Ele destacou o peso do contencioso no equacionamento e defende o recálculo, por meio da revisão de processos. Hoje, o provisionamento do contencioso é de R$ 12,6 bilhões.

 

Debate aberto

A plenária com a diretoria da Funcef rendeu discussões e o debate se prolongou com um justificado bombardeio  de perguntas dos participantes e dirigentes de associações de todo país sobre temas como: voto de minerva, redução de despesas,  governança, transparência e a situação da Vale.

O presidente Carlos Vieira afirmou que que diversas ações estão sendo tomadas para rever o tamanho da fundação, que tem hoje custo anual aproximado de R$ 180 milhões. Ele defende adequações tecnológicas para otimização dos trabalhos.“Levar uma proposta de redução de quadro baseado em suposições não é o caso. Estamos estudando o que realmente pode ser feito, passando pela via dos avanços tecnológicos e que passará também pela validação de toda diretoria executiva”, afirmou o presidente.

O diretor Antônio Augusto reafirmou a política de racionalização de despesas e o propósito de desenvolvimento da estrutura tecnológica para otimização das entregas. Afirmou que a Funcef fechará o ano com menos de 600 empregados e que foram tomadas pelo menos vinte medidas de redução de despesas com base na gestão de pessoas. O diretor de Administração informou ainda que na próxima semana, será feita  a primeira divulgação da política de recursos humanos da Funcef.

Segundo ele, serão divulgados o quadro de cargos e salários – que evidenciaria que as remunerações praticadas pela Funcef estariam abaixo da média praticada pela Caixa – bem como a relação de pagamentos a fornecedores e lista de contratos. Max Pantoja trouxe um contraponto em relação à pressão para redução do quadro de funcionários. “Estou sendo pressionado para aumentar a capacidade de resposta da controladoria em função da falta de fiscalização do passado- e o quadro ordinário não dá conta de suprir”, afirmou o diretor de Controladoria.

Sobre o equacionamento de 2016, Délvio Brito afirmou que ainda não foram fechados valores e que não há previsão para início da cobrança. Disse também que não se pode afirmar qual será o impacto do pagamento das parcelas do acordo de leniência no valor a equacionar. O diretor de Benefícios anunciou a redução da meta atuarial, mas antecipou também uma informação não muito agradável: o equacionamento de 2016 se dará pelo valor máximo – diferente do cálculo de 2014 e 2015. “o Deficit não equacionado gera mais déficits”, justificou.

O plano deve ser apresentado até dezembro – e a expectativa é que seja aplicado em fevereiro. Sobre o equacionamento em curso, questionado sobre cobrança integral do valor sobre a parcela do 13° salário,  Délvio esclareceu que uma vez cobrado o valor integral agora, em novembro, não haverá cobrança do pagamento na parcela de fevereiro. Sobre os prazos dos equacionamentos, diretor de Benefícios explicou que todo ano os planos de equacionamento são revistos e os prazos podem ser revistos em caso de superávit.

Em relação aos processo de governança, os diretores destacaram a criação do grupo de trabalho de Investimento e Desinvestimento – e afirmaram que decisões relativas a investimentos estão passando por toda diretoria. Paulo Werneck afirmou que hoje, o processo de investimento está totalmente calcado da análise de técnicos para avaliar se são adequadas para os planos e, só depois, é levado para esferas superiores. “Com isso estamos blindando interferências políticas sob investimentos arriscados”, afirmou.

Paulo Chuery afirmou que diversas medidas estão sendo tomadas para reduzir o impacto do contencioso. Informou que a equipe passou passou por cursos de atualização e que estão realizando várias correções internas, especialmente relativas a fluxos de trabalho e prazos- gerando um alto índice de sucesso nas ações. Em relação às tratativas com a Caixa, a diretoria pede cautela: “Estamos em processo de negociação com a Caixa sobre o Contencioso. Seria prematuro partir para o ajuizamento da questão sem antes clarear todos as questões junto à patrocinadora”.

A coerência entre discursos e posicionamentos de todos dirigentes presentes foi quebrada quanto o tema Vale voltou à discussão. Evidenciou-se o embate interno na tomada de decisões relativas à mineradora – que representa hoje R$ 4,8 bilhões nos ativos da Funcef – entre a diretoria eleita, representada principalmente por Max Pantoja, e o presidente da Fundação, Carlos Vieira.

Max Pantoja destaca a perda de quase R$ 4 bilhões nos ativos e, especialmente, a perda de participação e de controle nas decisões por parte da Funcef com a reestruturação da Vale, aprovada pela atual diretoria executiva. O diretor de controladoria defende uma luta, que será árdua: uma revisão “cuidadosa e controlada” do estatuto da Funcef, para dissolver o que classifica como “assimetrias” de poder.  “A direção está dividida em dois polos”, afirma Pantoja.

O presidente da AEA-PR elogiou à tranquilidade do presidente Carlos Vieira em responder às perguntas e à coragem de Max Pantoja em expor abertamente o problema. “Roupa suja se lava mesmo dentro do nosso ambiente, com transparência. Só o tempo dirá quem está com a razão e esperamos que nós os participantes sejamos os beneficiários dos resultados futuros”, afirmou Jesse. O presidente da AEA-PR clamou por ação urgente relativa ao impasse que aflige os colegas do PMPP e, em relação ao Contencioso, a atuação firme frente aos 16 mil processos judiciais em curso.

A plenária pode ser assistida na íntegra na página da Fenacef no facebook.