No início da década de 90, a miséria e a fome se alastrava por todo Brasil. Sensível à situação, o sociológo Hebert de Souza, o Betinho, iniciou um movimento social contra a fome que se expandiu por todo país e também tocou os funcionários da Caixa Econômica Federal. Os empregados da época devem se lembrar da arrecadação mensal de vales-alimentação que os colegas promoviam nas agências. A mobilização além de levar à arrecadação de toneladas de alimentos durante anos também foi o começo da história da ONG Moradia e Cidadania.
“Foi um dos maiores movimentos realizados no país em que diferentes coletivos e instituições se deram as mãos para arrecadar alimentos. E os empregados da Caixa abraçaram a causa. Rapidamente foram formadas unidades e comitês locais. Eram muitos voluntários, que depois de conseguirem os alimentos, continuaram realizando arrecadações de agasalhos, materiais escolares, leite para Pastoral da Criança”, conta a aposentada da Caixa e atual coordenadora estadual da organização, Maria de Fátima Costamilan.
As campanhas de arrecadação seguiram por sete anos. No Paraná, o chamado “Comitê da Ação e Cidadania era coordenado pela colega Mariângela Hortmann. O trabalho junto a comunidades se ampliou e surgiu a necessidade do movimento se formalizar. “Como funcionários da Caixa, tínhamos muita credibilidade com a população e sempre fomos muito cuidadosos com a prestação de contas. Entendemos que era necessária a formalização para adequar as doações crescentes em dinheiro. Depois de constituída a OSCIP, os colegas da Caixa puderam passar a contribuir com valores mensais, com desconto em folha”, explica Fátima.
O amadurecimento da organização também se deu com a evolução das atividades realizadas. Além das campanhas de arrecadação, as representações estaduais passaram a desenvolver projetos de caráter mais estrutural, apoiando cidadãos e comunidades a gerar renda. No Paraná, uma das primeiras ações realizadas foi a criação das salas de inclusão digital em comunidades carentes.
“Solicitamos à Caixa que computadores velhos que eram substituídos fossem doados à organização. Os aparelhos eram consertados e formatos por colegas voluntários. Em Curitiba, montamos sala de informática em bairros como Cajuru, num importante momento de revitalização da localidade. Na Vila Osternack, reformamos um barracão e voluntários ofereciam aula à comunidade”, conta a coordenadora estadual.
Fátima conta que um espaço de informática também foi montado em uma sala no centro, na sede da Caixa da rua Visconde do Rio Branco. “Oferecemos aulas a profissionais de limpeza e vigilantes da Caixa. Tivemos, inclusive o caso de uma moça da limpeza que fez o curso e, algum tempo depois, a encontrei em um agência contratada como vigilante. Ele agradeceu muito a nós, pois graças ao curso conseguiu ser aprovada no teste para a vaga”. O espaço também ofereceu aulas de violão, reforço escolar e uma biblioteca comunitária.
Cooperativismo e Economia Solidária
Desde então, a organização no Paraná passou a ter participação ativa no Fórum estadual de Economia Solidária, Comissão estadual de segurança alimentar e em diversos debates envolvendo causas sociais. Entre 2014 e 2017, mantiveram a ‘Casa Ecosol’, em um espaço alugado, no centro de Curitiba, onde ofereceram cursos, oficinas e comercializavam produtos artesanais de cooperativas.
“Nesse período tivemos perda de vários associados que se aposentaram ou saíram da Caixa em PDV. Tivemos que sair do espaço por dificuldade financeira, mas continuamos trabalhando junto a comunidades apoiando a capacitação de pessoas, especialmente de mulheres. Apoiamos o desenvolvimento de cooperativas de costura em Sao José dos Pinhais, Almirante Tamandaré e Cerro Azul”, explica a coordenadora estadual. A organização também promove oficinas itinerantes de técnicas artesanais.
A promoção do cooperativismo e da economia solidária hoje é o carro chefe da organização no estado, demonstrando que a importância da ONG vai além de oferecer ajuda emergencial, participando de debates, apoiando a aprovação das leis de economia solidaria de Curitiba e Sao José e a criação de emendas parlamentares. Tanto em âmbito estadual como nacional, todos coordenadores são empregados e ex-empregados da Caixa.
“Eu nao consigo me enxergar sem fazer algo por um mundo melhor. Nao conseguimos ser felizes sozinhos. Independente de nossa posiçao social, temos uma responsabilidade com nossa comunidade e sempre temos algo para doar, se nãoo materialmente, podemos oferecer nosso tempo. É importante atuar além do nosso universo particular e familiar e nao é questao de caridade, é responsabilidade cidadã”, defende Fátima.
Campanha Nacional – Unidos contra a Fome 2021
Atualmente a organização está promovendo em âmbito nacional uma campanha para arrecadação de alimentos para famílias em situação de extrema vulnerabilidade social, especialmente impactados pela atual crise econômica. As doações podem ser feitas em dinheiro para a Coordenação Nacional, que repassa os valores aos estados. Aqui no Paraná, já estão sendo realizadas entregas. No mês de abril, representantes da APCEF-PR, AEA-PR e da Coordenação estadual entregaram doações na Obra Social Santo Aníbal, na Vila União Ferroviária, no bairro Uberaba, que atende famílias, e no Instituto São Sygmunt Felinski, na CIC.
Para conhecer mais sobre o projeto, acesse:
- Canal no Youtube da ONG Moradia e Cidadania
- Site da ONG Moradia e Cidadania
- Instagram da ONG Moradia e Cidadania