Fonte: Valor Econômico – Finanças – 01.04.2015

A FUNCEF, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, encerrou 2014 com um déficit acumulado em seus planos de benefícios de R$ 5,6 bilhões. O valor corresponde a 10,3% do patrimônio da fundação, que fechou o ano passado em R$ 54,2 bilhões.
O rombo está concentrado no maior plano, o Reg/Replan Saldado, com saldo negativo de R$ 5,143 bilhões. Com isso, a FUNCEF terá de apresentar um plano de equacionamento, pois completa três anos consecutivos de déficit.
Segundo o presidente da FUNCEF, Carlos Alberto Caser, há um grupo trabalhando na formatação desse plano e o resultado deve ser apresentado dentro de 90 dias. Divulgado o plano, há necessidade de aprovação por órgãos reguladores, mas a determinação legal é de que o esforço para cobertura do déficit seja dividido meio a meio entre participantes e pela patrocinadora, no caso, a Caixa. “Os percentuais e o tempo [de cobertura do déficit] ainda estão em discussão”, diz.
Caser destaca que apesar do resultado negativo recente, a FUNCEF tem capacidade financeira para pagar os benefícios. “Não há risco de qualquer interrupção no pagamento de benefícios”, ressalta.
O diretor da área de investimentos da fundação, Maurício Marcellini, aponta que o desempenho da FUNCEF foi prejudicado pela carteira de renda variável, que sofreu forte impacto negativo da queda do valor contábil das ações da Vale, que correspondem a 37% dessa carteira. Essa participação é marcada a valor econômico, e não a valor de mercado, por se tratar de uma posição estratégica e que integra o acordo de acionistas da companhia
A participação no FIA Carteira Ativa II, lastreado por papéis da mineradora, baixou para R$ 5,6 bilhões em 2014. Nos últimos três anos, as reavaliações desse investimento sofreram redução de quase 40%, ou R$ 3,7 bilhões.
De acordo com Caser, tirando a carteira de renda variável, que sofre por conta da conjuntura, os demais investimentos renderam acima da média atuarial. Destaque para as aplicações imobiliárias, com retorno acumulado de 73,56% nos últimos três anos, ante meta de 39,84%. Segundo, Marcellini, a carteira capta a maturação de investimentos feitos entre 2006 e 2008. “Temos que afastar a ideia de que todos os investimentos deram errado”, diz.
Segundo Caser, o investimento da fundação na empresa Sete Brasil, que encontra dificuldades de financiamento e capitalização após redução do plano de investimento da Petrobras e das investigações da Operação Lava Jato, está passando por nova avaliação de valor econômico agora em 2 015. Assim que tal avaliação estiver pronta, o impacto será reconhecido no balancete mensal do fundo. Em 2014, o investimento na empresa não teve impacto nos resultados. A FUNCEF tem cerca de 17,5% da Sete Brasil, ou cerca de R$ 1 bilhão.
Apesar das dificuldades, Caser ressalta que esse não é um investimento perdido. “Pode ser que seja necessário algum ajuste. A empresa passa por dificuldades, mas não é um investimento que se considera perdido em absoluto”, diz.
Tanto Caser quanto Marcellini ressaltam que a regra para equacionamento de déficit do setor poderia ser revista, para levar em conta a duração da carteira e a relação do déficit sobre o patrimônio da fundação.